quem conta um conto aumenta um ponto
e mais não digo ....



Ruim de Cama e adjacências


Sobre Charlotte, a pobre moçoila futura rica escritora, que talvez nunca tenha conhecido , ainda, os olhos de um rei

Mais de um milhão de exemplares vendidos. Esta foi a primeira frase que me saltou aos olhos, ainda dentro da livraria. Cinco minutos depois de folhear “Zonas Úmidas”, o “sucesso “ de Charlotte Roche, a frase da capa me enoja, embrulha o coração. O livro vem com selinho e tudo de proibido para menores, anunciando delícias que não chegam. Brochante. Tenta ser engraçadinho e não me cativa um riso. Exceto para viciados em escatologia barata, não convence, nem como invenção. Pelo menos eu não fico animada com descrições “estóricas” de uma pizza, cuja cobertura contém cinco tipos de esperma, dos motoqueiros do deliveri. O livro, divulgado como um confessionário de prazeres sem limites, que passa do comum ao incomum, sempre arrebatador, nada mais é na minha opinião que uma obra boba e nojenta. Não costumo falar do que não gosto, mas , nesse caso, fica um reflexão sobre o que entendemos por prazer.... O prazer é claro uma experiência ilimitada. E isso nada tem a ver com enfermidades anais ou neuroses familiares e sim com a nossa essência sagrada de comunhão. Um olhar pode ser uma zona úmida, aonde navega-se em sensações infindas de gozos eternos.
São tristes as estórias doentes de uma moça de 18 anos - sim a “obra”fala o tempo todo de uma cirurgia escabrosa de hemorróidas e de como a paciente resolve estourar bolhas de sangue , para ir nos limites da dor, entre outras experimentações . A pequenina circunferência é apenas pretexto para a mais boçal das neroses: da filhinha que tenta juntar pai e mãe. Ou da menina frágil, que transa para disfarçar sua dor, no gozo, talvez fantasiado numa rima pobre.afff. Sucesso editorial é realmente um mistério. De todas as frases que li (confesso que foi leitura dinâmica) somente uma me chamou atenção: “O medo cansa”. Além do título é claro, que é muito sugestivo e foi desperdiçado sem dó, nem amor: “zonas úmidas”. Pra mim , zonas úmidas são águas correntes, que inundam de alegria perfumada. Livros como este talvez sejam prenúncios de que tanto as femeazinhas livres , quanto as trepadeirinhas de ocasião começam a ser reduzidas,por si mesmas, nas “estórias modernas” , a donzelas neuróticas e de profundo mau gosto, mas tudo bem Charlotte, se essa ficção te faz feliz. Há muitas outras estórias por aí. Eu sou como a moça de Manoel (Manoel de Barros, segunda infância), gosto de amanhecer de pernas abertas para o sol...