TEMPESTADE ANUNCIADA

A tristeza é sempre hospedeira intrusa da tarde ensolarada, principalmente se for domingo. Tempo em que até as desconfiadas corujas folgam da vigília da toca. Os rabos dançantes dos cães nos passeios são uma alusão divertida da alegria contida ócio. Eu, não me divertia, a princípio. Chovia em mim, na torrente da mesma tarde morna do meu vizinho. Uma lágrima de amor respingou no batente do meu sorriso e ficou ali me lembrando de você.

Nenhuma das belezas era comovente o bastante, ao contrário, soavam estanques, não me afetavam e consequentemente só aumentavam minha culpa. Minha tristeza pequeno burguesa, qualquer que fosse, destoaria do cenário... De cima, via-se os raios de sol saindo detrás das nuvens formando um enorme clarão....do chão, as flores rasteiras de todas as cores em alguns cantinhos, que a gente nem costuma olhar....Pássaros, alheios a mim, gozavam seus vôos na minha cara....enquanto eu permanecia ali, encostada na paisagem da janela, cega de saudade. Até que uma brisa generosa me tomou da tua falta. Finalmente me deixei apenas sentir o vento gostoso, sem analisar, sem pensar. Foi em vão. Ao lembrar-me gente, imediatamente pensei que o mesmo vento que tocava meus lábios soprava seu corpo em algum lugar. “Pensar é estar doente dos olhos”...Fernando Pessoa

Caminhei a passos lentos, quando avistei ao longe um bandinho de moleques, que pareciam saídos de um filme de Almodóvar, com um festival de camisetas alaranjadas , vermelhas e amarelas. Corriam junto com a felicidade, em bando, rumo a uma pelada. Soube na hora, que aquela imagem me marcaria para sempre.....feito o hálito das manhãs inocentes da infância....



A tempestade ainda havia em mim...feita da saudade daquilo que eu nem vivi ainda ao lado teu, tanto quanto do que me destes de eterno ontem.

Cansada de você, voltei a me apoiar no batente da janela, para descansar a vista e de repente, a chuva minha transborda no tempo. Começa uma linda tempestade, aonde ponho meus anseios de bonança....

De qualquer forma, a despeito do cheiro de terra molhada, capaz de encantar a mais calejada das almas com ecos de fertilidade, sigo sem entender os jogos de amor...desejo tua presença ensolarada, te espero, creio, oro, juro que te sinto queimar também na fogueira das nossas ausências....mas, quando me chegas aonde a vista alcança, te perco na neblina das nossas dúvidas...... “Esta não é mais uma carta de amor/São pensamentos tortos traduzidos em palavras/ Para que eu possa entender/ O que eu também não entendo ....”....JQueste

* foto Blog de Zeus

UM SORRISO PARA VOCÊ

Olha eu aí espreitando vocês...haha...toda cheia de pose em foto de trabalho....
Bom final de semana.........e claro se lambuzem de beijos ao som de sorrisos..........


Parabéns ao meu querido amigo Berti, que hoje completa mais um dos seus 10 mil anos de gentileza e grandeza......um rapazinho que ganhou meu coração.....
Vocês já ouviram falar de egrégora??........ Pratico SwáSthya Yôga, método DeRose, há um ano e meio mais ou menos, tempo em que renasci ....depois de viver outras por aí...esta é minha egrégora essencial, de saúde física e mental, força, poder, união e auto-suficiência , sem arrogância...no sentido de não oprimir nossos semelhantes, com nossas incapacidades e sem dogmas também.......mas egrégora, de qualquer forma, é mais ou menos assim uma união de energias, entes, sementes....é um agrupamento transcendente de gente ligada por algo maior que o ego......é a somatória de vontades...são aqueles grupos e pessoas que escolhemos por afinidade de reencontro......

Hoje fiz uma prática especial...depois reli alguns belos sutras do mestre DeRose ( "pobre de ti homem se uma mosca é capaz de roubar-te a paz") e mais que nunca me senti feliz de ter acesso à esta filosofia de vida, calcada na lealdade, na lucidez e na liberdade... assim como a possibilidade que o yôga me trouxe de amar pessoas , cujos adjetivos seriam injustos de tão pequenos.......
Lembrando: nossa prática nada tem a ver com relaxamento...e sim com expansão da consciência física e mental, do poder interior de realização e sublimação também...é uma forcinha para a gente tomar a vida nas mãos, olhá-la, acariciá-la e depois soltá-la como passarinho na busca livre de suas paisagens ....e nós seremos sempre a árvore frondosa, bela e cheia de frutos, aonde o passarinho pousa para se refrescar.......sim...o impulso de vida, a chama da força da vontade que mora no ventre de cada um é maior que carne , osso, mente ou espírito...somos energia...
A blogosfera, por sinal, pode ser considerada uma egrégora também.....um beijão à vocês queridos amigos daqui e sorriam sempre, porque sorrir limpa a mente , o corpo e a alma para que tenhamos percecpções mais sutis dos dias.................
* www.uni-yoga.org.br

CARÍCIA

Há um cheiro de amora inebriante naqueles centímetros de distância, que separam os lábios do beijo. Uma música muda, que alardeia um baile de sentidos. A língua é só a ponte entre as margens do rio de salivas santas, uníssonas e bentas da vontade....

Quando duas bocas se olham, o mundo evapora em bolinhas de sabão. A gente deixa de ser isto, para estar aquilo que somos: uma sensação.

Só de escrever a palavra b-e-i-j-o fico extasiada, porque ela me remete àquele roçar de carnes trêmulas, quentes e doces, ao fogo que arde tanto no meio do meu ventre, que incendeia minhas bochechas e perturba minhas entranhas. Beijo é invenção de querubim travesso, com certeza.

Um beijo salvou a branca de neve e outros tantos levam à perdição almas de amantes dormentes por aí......Reza uma lenda que, pelo menos antigamente, as prostitutas não beijavam na boca, por ser esse um ato de amor.....não sei se é ou foi verdade ....mas creio, isto sim, é que tem muito jeito de fazer amor, mas beijando é sempre mais gostoso......

Todo beijo é sagrado. De amigo, de irmão, de bicho, de saudade, de encontro, de descoberta, de despedida, de dúvida, de brincadeira, ...desde que a boca pulse no ritmo do coração. Só não vale beijo de mentira, sem vida, igual a flor de plástico, que não cheira nem fede.....

Sim sou ré confessa. Eu superestimo o beijo de amor. E quem pode ficar indiferente a um beijo “quente”? Beijar é estar no céu, com a alma recostada na maciez das nuvens, vagando sem destino certo na querência de sentir o coração explodir no peito e desfazer a gente em mil pedaços de desejo.......

Por isso meu amor, beija-me eternamente assim deste jeito que você faz, para que eu possa viver para sempre abrigada no céu da tua boca, hoje e sempre... amém!

*Para Val...este texto


*Para vocês, meus queridos, um beijo terno e um conselho: beijem, beijem , beijem , beijem.......

DA BOB FILHA DE UM BOB PAI

FETO DE PRIMAVERA

Nem no dicionário há nome para o que sinto
O que sinto sou eu
Não inventei
Minha boca, nem mente, anca ou semente
Vim do pé de laranja lima
Nasci sempre menina

Me disseram que era Carolina
Nem sabia
Contaram ser por obra do Chico
E da sua moça da janela, guardiã do amor que não existe
Se foi pelos olhos cegos, que não viram o mundo passar na janela...nunca perguntei
Mas, meus olhos não são tristes.... viu?
São apenas moleques
Hora assustados, noutra levados
Saltitam fagueiros sobre minha dor
E eu fico à deriva, numa espécie de curiosidade encantada...
Do que sobrevive em mim


*Dizem por aí que fui nomeada Carolina por causa da música homônima de Chico Buarque de Holanda e porque minha mãe me ouvia assim também, desde a sua meninice....

*A maior homenagem que me fizeram, os que roubaram o nome da moça da canção para me dar, mais precisamente meu amado pai, vive na estrofe: “lá fora amor...uma rosa nasceu...”....ah meu lindo pai, como eu queria ser as vezes só e unicamente uma rosa branca............ sua eterna rosa, meu anjo......... e ainda que eu não possa, que o cheiro do meu amor esteja sempre contigo.....aonde quer que precises ir...

*um grande beijo meu BOB e vá sem medo para os desafios de sua caminhada desta semana, faça como as flores que enfrentam com a mesma altivez os raios de sol e de tempestade.....

EM TEMPO

MINHA CULPA!!!!A PRESSA É SEM DÚVIDA A INIMIGA DA PERFEIÇÃO.......E NA CORRERIA DA VIDA TENHO DEIXADO DE DAR O CRÉDITO DAS BELAS FOTOS QUE PUBLICO AQUI, FALTA GRAVE PRINCIPALMENTE PARA UMA JORNALISTA...PARABÉNS À TODOS OS ARTISTAS DO SITE OLHARES. AS IMAGENS JÁ POSTADAS SÃO TODAS DE LÁ (WWW.OLHARES.COM.BR)

DO MAR QUE TRANSBORDA EM MIM

Um torpor assoprou a noite de Clara. Deitada sob um ventilador, tinha da hélice uma nova impressão. Cortante. O medo girava sobre sua cabeça, mas ela pela primeira vez não queria sair dali. Era desafiador e ela sentia-se mais forte. Antes, no entanto, imaginou-se prisioneira de um redemoinho de vento, estava zonza de tanto girar e caiu vulnerável, foi assim que aconteceu. Com olhos entreabertos notou uma mão estentida. Era de seu algoz oferecendo alguma paz ou talvez piedade. Ela aceitou por pena e uma certa emoção inominada , fusão de bem e mal querer, que ainda não conhecia. O coração de ambos estava nas mãos, nos segundos em que durou o aperto. A boca de clara começou a tremer e ela sabia que era hora de ir embora. Precisava fugir de qualquer palavra e acabou dizendo muito mais do que queria.......antes de sair correndo (Trecho de um roteiro teatral)

Queria muito viver próximo ao mar. Botei um pouco de sal grosso, com balanço de onda e patuá de iemanjá, nos arredores de meu coração para deixar meu peito a salvo de mim, no sutiã de algodão. Visito a praia imaginária, que mora no ventre da minha vontade, sempre que sinto o frio da tristeza. Daí volto a ser sedenta de alegria. Lembro que a vida é feita de muitas marés...É que o mar me emudece de encantamento e eu gosto de ficar assim calada de amor.....

“O silêncio nunca têm contas à dar. Não só causa sede, como confere um traço de nobreza”, disse o filósofo Platão (Vidas Paralelas)




CÁLIDA


Emudecida
Já não sei, nem sinto
Nada muito
No instante entre vãos de palavras mortas, vivo encolhida
Sem nada esperar, quando sei que você não virá
De dia, o vento consola meus lábios com beijos gelados
De noite, me junto ao bando de lobisomens
Corremos madrugada adentro
Eu fujo de mais uma saudade

TEMPOS DE CHOCOLATE

Ah que saudades de outras Páscoas minhas.... Que falta daquelas pegadas de coelho, feitas com talco e amor da minha mãe e das noites em que coloquei cenouras na janela do meu filhote, para alimentar seus sonhos meninos. Que saudades do meu avô Toninho, que preferia batatas doces a chocolate, mas sempre amou as tradições e a família rindo em volta de qualquer pretexto. Minhas neuroses foram tão menores, que minha lembrança é de ovos bem maiores que os de hoje sabia? Eles pareciam de certa forma infindáveis, como a infância. Que lembrança boa me visita, de repente, ao abrir minha geladeira e lembrar de outra, a da casa dos meus primeiros anos, empanturrada de chocolates meus e das minhas duas irmãs. Lembro de dona Monita dizendo “Tem que comer devagar para não fazer mal, senão o coelho fica triste...” Nossa, só depois de um certo tempo de “crescida” fui descobrir como é difícil conter certas fomes mamãe...assim como também a verdade prazerosa que só a calma (mas não de contenção e sim de medida certa) traz para todas as nossas vivências....mas, voltando à aquela geladeira azul calcinha da década de 70 e suas respectivas emoções, a gente nem queria tanto comer a páscoa....desejávamos eternamente a beleza daquelas luzes as embalagens, o cheiro...ah a brisa das coisas é mágica......é eterna......basta lembrar......

Bom, tenho que lembrar que católica não sou. Vejo um deus em cada manifestação da natureza, em você e até em mim, nas flores, na poesia, na parte, no elo, no todo e assim também naquilo que o catolicismo possa ter de bom e uma dessas coisas é com certeza a idéia de ressurreição. Todos nós renascemos a cada dia, para o bem e para o mal. Daí, por que não aproveitar o recesso para começar, continuar, parar ou o que lhe seja necessário nessa Páscoa. Eu sempre gostei da idéia de ser uma Fênix – mito de renascimento. É confortável saber que se renasce das cinzas sempre, que se quer muito....e você já parou para pensar nos sabores que realmente te importam ou fazem falta?

Pois hoje rogo para que lambuzemos a alma de chocolate, porque somos sim feitos também para o deleite.....se puder doe um bombom para um garoto sem a doçura de um lar e se não, apenas mentalize por um mundo melhor ou faça algo qualquer, que esteja ao seu alcance...pode ser até apenas rezar, se você é católico. ...mas tem que ser com bháva, muito....(termo sânscrito que indica amor, sentimento, devoção...querência de tudo que é sagrado e bom)

Quase esqueci de outra coisinha que me faz falta também. A liberdade de comer, sem essa neurose fabricada em toda a gente- que se bobear daqui a pouco será genética - recheada de proibições e medo de gordura, caloria e outras besteiras do arsenal que nos empurra para uma auto-imagem distorcida, com o valor de “mercado” de uma barata, gorda, lógico...........É preciso tentar não esquecer que “um homem, no fim, é a soma das suas neuroses”...Nelson Rodrigues....
Penso que se comer é um ato sagrado, divino, já que mantém nosso corpo e se fizermos isso instintivamente, por necessidade e prazer e não para aliviar/compensar a culpa, medo, raiva, solidão e outras, o pobre do chocolate não vai ficar para sempre impregnado no seu culote ou na barriguinha...tá certo?....E se ficar você só vai para a “fogueira” voluntariamente....porque o valor da gente não se mede em quilogramas.......

Um beijo grande e um domingo de cheiros inesquecíveis de bons nesse ferdor, que tá o mundo!