quem conta um conto aumenta um ponto
e mais não digo ....



TEMPOS DE CHOCOLATE






Ah que saudades de outras Páscoas minhas.... Que falta daquelas pegadas de coelho, feitas com talco e amor da minha mãe e das noites em que coloquei cenouras na janela do meu filhote, para alimentar seus sonhos meninos. Que saudades do meu avô Toninho, que preferia batatas doces a chocolate, mas sempre amou as tradições e a família rindo em volta de qualquer pretexto. Minhas neuroses foram tão menores, que minha lembrança é de ovos bem maiores que os de hoje sabia? Eles pareciam de certa forma infindáveis, como a infância. Que lembrança boa me visita, de repente, ao abrir minha geladeira e lembrar de outra, a da casa dos meus primeiros anos, empanturrada de chocolates meus e das minhas duas irmãs. Lembro de dona Monita dizendo “Tem que comer devagar para não fazer mal, senão o coelho fica triste...” Nossa, só depois de um certo tempo de “crescida” fui descobrir como é difícil conter certas fomes mamãe...assim como também a verdade prazerosa que só a calma (mas não de contenção e sim de medida certa) traz para todas as nossas vivências....mas, voltando à aquela geladeira azul calcinha da década de 70 e suas respectivas emoções, a gente nem queria tanto comer a páscoa....desejávamos eternamente a beleza daquelas luzes as embalagens, o cheiro...ah a brisa das coisas é mágica......é eterna......basta lembrar......

Bom, tenho que lembrar que católica não sou. Vejo um deus em cada manifestação da natureza, em você e até em mim, nas flores, na poesia, na parte, no elo, no todo e assim também naquilo que o catolicismo possa ter de bom e uma dessas coisas é com certeza a idéia de ressurreição. Todos nós renascemos a cada dia, para o bem e para o mal. Daí, por que não aproveitar o recesso para começar, continuar, parar ou o que lhe seja necessário nessa Páscoa. Eu sempre gostei da idéia de ser uma Fênix – mito de renascimento. É confortável saber que se renasce das cinzas sempre, que se quer muito....e você já parou para pensar nos sabores que realmente te importam ou fazem falta?

Pois hoje rogo para que lambuzemos a alma de chocolate, porque somos sim feitos também para o deleite.....se puder doe um bombom para um garoto sem a doçura de um lar e se não, apenas mentalize por um mundo melhor ou faça algo qualquer, que esteja ao seu alcance...pode ser até apenas rezar, se você é católico. ...mas tem que ser com bháva, muito....(termo sânscrito que indica amor, sentimento, devoção...querência de tudo que é sagrado e bom)

Quase esqueci de outra coisinha que me faz falta também. A liberdade de comer, sem essa neurose fabricada em toda a gente- que se bobear daqui a pouco será genética - recheada de proibições e medo de gordura, caloria e outras besteiras do arsenal que nos empurra para uma auto-imagem distorcida, com o valor de “mercado” de uma barata, gorda, lógico...........É preciso tentar não esquecer que “um homem, no fim, é a soma das suas neuroses”...Nelson Rodrigues....
Penso que se comer é um ato sagrado, divino, já que mantém nosso corpo e se fizermos isso instintivamente, por necessidade e prazer e não para aliviar/compensar a culpa, medo, raiva, solidão e outras, o pobre do chocolate não vai ficar para sempre impregnado no seu culote ou na barriguinha...tá certo?....E se ficar você só vai para a “fogueira” voluntariamente....porque o valor da gente não se mede em quilogramas.......

Um beijo grande e um domingo de cheiros inesquecíveis de bons nesse ferdor, que tá o mundo!