quem conta um conto aumenta um ponto
e mais não digo ....



DO MAR QUE TRANSBORDA EM MIM






Um torpor assoprou a noite de Clara. Deitada sob um ventilador, tinha da hélice uma nova impressão. Cortante. O medo girava sobre sua cabeça, mas ela pela primeira vez não queria sair dali. Era desafiador e ela sentia-se mais forte. Antes, no entanto, imaginou-se prisioneira de um redemoinho de vento, estava zonza de tanto girar e caiu vulnerável, foi assim que aconteceu. Com olhos entreabertos notou uma mão estentida. Era de seu algoz oferecendo alguma paz ou talvez piedade. Ela aceitou por pena e uma certa emoção inominada , fusão de bem e mal querer, que ainda não conhecia. O coração de ambos estava nas mãos, nos segundos em que durou o aperto. A boca de clara começou a tremer e ela sabia que era hora de ir embora. Precisava fugir de qualquer palavra e acabou dizendo muito mais do que queria.......antes de sair correndo (Trecho de um roteiro teatral)

Queria muito viver próximo ao mar. Botei um pouco de sal grosso, com balanço de onda e patuá de iemanjá, nos arredores de meu coração para deixar meu peito a salvo de mim, no sutiã de algodão. Visito a praia imaginária, que mora no ventre da minha vontade, sempre que sinto o frio da tristeza. Daí volto a ser sedenta de alegria. Lembro que a vida é feita de muitas marés...É que o mar me emudece de encantamento e eu gosto de ficar assim calada de amor.....

“O silêncio nunca têm contas à dar. Não só causa sede, como confere um traço de nobreza”, disse o filósofo Platão (Vidas Paralelas)




CÁLIDA


Emudecida
Já não sei, nem sinto
Nada muito
No instante entre vãos de palavras mortas, vivo encolhida
Sem nada esperar, quando sei que você não virá
De dia, o vento consola meus lábios com beijos gelados
De noite, me junto ao bando de lobisomens
Corremos madrugada adentro
Eu fujo de mais uma saudade