quem conta um conto aumenta um ponto
e mais não digo ....



Sem cabeça




Palavra alguma remenda seres em desalinho. A vida sempre rasga uma parte da gente, de uma forma ou de outra. Nada se esvai, no entanto. Os poços sem fundo são imaginários. Costurar um mundo de letra é armadilha, que tenta os escritores tanto quanto beijo de canto de boca, ou mais.
Antes achei que escrever era pensar. Que besteira. Só escreve, mesmo, quem esquece. O resto é desabafo. Também vale, quando é bonito. Ou se faz a gente se ouvir, pela boca do vizinho de existência. Tem ainda os contos fantásticos, das realidades inconscientes.
Somos todos sobreviventes ou fugitivos de nossas guerras particulares e há aqueles que pegam carona na linguagem, mesmo sabendo-se, paradoxalmente, filhos do silêncio. Esses são os que escrevem.
Só no ato do beijo, a língua cumpre seu papel fundamental de dizer em silêncio. Palavras bonitas são essas. As que beijam nossa dor e nossa alegria, com o mesmo cio. Essas palavras são passarinhas. Elas não ficam. Você grafa, exatamente, para soltá-las , talvez num tempo sem volta. A gente se apaixona por aquilo que quer escrever. Quando acontece a frase, percebe-se que não se quer ficar subjulgado a uma paixão. Acontece também com os afetos. Tudo que a gente vive é para sempre. E também para nunca mais.

Não tenho saudades de nada e nem de ninguém que amei e/ou escrevi porque está tudo aqui, da pele para dentro. Até quando ainda não me veio. Quando ardo, é das vontades de escrever a muitas mãos, histórias, que talvez nunca passem de rascunhos da minha cabeceira de sonhadora. É que eu brinco por brincar. Quando amo a brincadeira, lógico. Eu , às vezes, careço de argumentos. Tipo a flor do mato, que apenas existe assim, perdida no capim, e pronto.
Quem sabe no futuro eu esteja preparada para dizer que escrevo sobre o nada, quando acaso me perguntarem. Por hora, ainda sou um bichinho. Mulher do mato. E bichanos não sabem escrever, mas o absurdo é o que temos de mais palpável na vida, afinal. Que o trem da imensidão me reserve, ainda, muitas letras cheirosas e coloridas ...
Muitas vezes meu coração bateu desigual , inclusive ao ouvir pela primeira vez esta canção por volta dos 10 anos de idade, numa rodada de boa música em casa, ande fiz viagens de arrepiar......Meu tio Antonio Carlos Montone, que se apresenta em vários bares de Campinas e tem Página no Orkut, cantou esta canção para mim hoje, lindamente. Obrigada meu bom!!!Ei bichinho Tu é "um maço de fiore"




O que será?????


Foto Daniel Oliveira

Meus Barcos de Papel

Ah! São tantas as águas que se encontram em meu ventre. Sou a pororoca , intenso encontro de sal e doce. Borbulho mais que champanhe das festinhas in. Posso garantir. Sou “Branquinha, pororoquinha guerreira” e também "preta, preta pretinha". Escrevo esta miscigenação. É vício santo, que acalma a loucura do corpo e da alma. Como seria, pois, se a vida nada mais fosse mesmo que um espaço em branco? Pronto para as palavras queridas. Um tempo verdadeiramente autoral. É! Sera ideal. Só que muitos escrevem e inscrevem-se em nossas autobiografias. Haja borracha e disposição para reescrever. Eu tenho. Até diverte. Forma assim uma espécie de sumário. E só permanece no meu texto o que eu escolho para colorir, claro. Não é fôlego que falta. Nem vida. Sou tão vívida. Às vezes parece que só falta o diacho do papel. Está tudo aqui no coração. As vezes parece até que tô com chagas, de tão grande o coração! Tem tudo aqui, mas o papel eu tenho que disputar no dente, para fazer valer o registro. Fazer o quê? Eu faço tudo que precisar. Cansa viu? Enjoa também. Há uma parábola, no blog do mestre DeRose sobre Shiva, o criador do Yôga sobre como ele trasnformou serpentes peçonhentas em braceletes e/ou enfeites. Tudo pode ser usado ao nosso favor, ainda creio.
Papel higiênico, papel principal, tudo é reciclável. Inclusive todas as palavras. Minhas. Ou melhor, não tenho posse de nenhuma letra. Elas é que me usam. E saem de meus dedos como o gozo inevitável, ao sinal de seu calor nas minhas costas e seus lábios na região abaixo de minhas madeixas cacheadas. Nuca. Eis meu ponto frágil. Gosto de sentir a dança da língua muda, sem ver , nem supor, apenas sentindo. Todas as palavras são indesculpáveis. Para o bem e para o mal. Engraçado. Talvez eu também seja assim. Apesar disso, amo tanto a gentileza, que ao sinal do menor incômodo emito desculpas à quem quer que seja, mas é mais por essa paixão ao gentil, tipo de gente em extinção, do que pelo arrependimento propriamente dito. Não que eu estude detalhadamente cada passo e acidentes de percurso também acontecem, mas é que as letras que traço são tão particulares, que não dizem respeito à aqueles e os que dela fazem parte, o fazem sabendo do ônus e do bônus. Minha mãe , tão querida quanto particular em seu modo de existir, sempre me cantarola uns versos..”eu sou assim..quem quiser gostar de mim eu sou assim...”
Sou a sereia que mora na lagoa. As vezes vôo. Já rastejei. Caí. Levantei. E na liberdade poética há asilo o bastante para os dionísicos eternos, como eu, contarem isso na maior cara de pau aos que passam a vida ensaiando palavras de ordem. Sou dionisíaca por natureza. Gosto da desordem de corpo e alma em construção coletiva.
Quero deixar minhas asas livres na correnteza......ainda que em barquinhos de papel....

Mergulhe

A vida é um estado líquido de saliva e lágrima. É água corrente. Lava. Inunda e pode te engolir em certas correntezas, caso falte atenção. Corpo que não se acomoda no copo do ópio. Transborda. Lava. Cura. Esteja mesmo vivo e estará a salvo,sopra um anjo qualquer, quando olhamos em volta e vemos um bando de mortos-vivos, por todos os lados. Essa mesma voz interior lembra que tudo comove e contenta a quem tem olhos de rio. De água doce. De calmaria, que segue à despeito dos rodamoinhos. É tão bonito e não à toa, que em certas ocasiões brotemos água, como uma bica de mel que escorre alheia à nossa pseudo importância.