quem conta um conto aumenta um ponto
e mais não digo ....



O que será?????


Foto Daniel Oliveira

Meus Barcos de Papel

Ah! São tantas as águas que se encontram em meu ventre. Sou a pororoca , intenso encontro de sal e doce. Borbulho mais que champanhe das festinhas in. Posso garantir. Sou “Branquinha, pororoquinha guerreira” e também "preta, preta pretinha". Escrevo esta miscigenação. É vício santo, que acalma a loucura do corpo e da alma. Como seria, pois, se a vida nada mais fosse mesmo que um espaço em branco? Pronto para as palavras queridas. Um tempo verdadeiramente autoral. É! Sera ideal. Só que muitos escrevem e inscrevem-se em nossas autobiografias. Haja borracha e disposição para reescrever. Eu tenho. Até diverte. Forma assim uma espécie de sumário. E só permanece no meu texto o que eu escolho para colorir, claro. Não é fôlego que falta. Nem vida. Sou tão vívida. Às vezes parece que só falta o diacho do papel. Está tudo aqui no coração. As vezes parece até que tô com chagas, de tão grande o coração! Tem tudo aqui, mas o papel eu tenho que disputar no dente, para fazer valer o registro. Fazer o quê? Eu faço tudo que precisar. Cansa viu? Enjoa também. Há uma parábola, no blog do mestre DeRose sobre Shiva, o criador do Yôga sobre como ele trasnformou serpentes peçonhentas em braceletes e/ou enfeites. Tudo pode ser usado ao nosso favor, ainda creio.
Papel higiênico, papel principal, tudo é reciclável. Inclusive todas as palavras. Minhas. Ou melhor, não tenho posse de nenhuma letra. Elas é que me usam. E saem de meus dedos como o gozo inevitável, ao sinal de seu calor nas minhas costas e seus lábios na região abaixo de minhas madeixas cacheadas. Nuca. Eis meu ponto frágil. Gosto de sentir a dança da língua muda, sem ver , nem supor, apenas sentindo. Todas as palavras são indesculpáveis. Para o bem e para o mal. Engraçado. Talvez eu também seja assim. Apesar disso, amo tanto a gentileza, que ao sinal do menor incômodo emito desculpas à quem quer que seja, mas é mais por essa paixão ao gentil, tipo de gente em extinção, do que pelo arrependimento propriamente dito. Não que eu estude detalhadamente cada passo e acidentes de percurso também acontecem, mas é que as letras que traço são tão particulares, que não dizem respeito à aqueles e os que dela fazem parte, o fazem sabendo do ônus e do bônus. Minha mãe , tão querida quanto particular em seu modo de existir, sempre me cantarola uns versos..”eu sou assim..quem quiser gostar de mim eu sou assim...”
Sou a sereia que mora na lagoa. As vezes vôo. Já rastejei. Caí. Levantei. E na liberdade poética há asilo o bastante para os dionísicos eternos, como eu, contarem isso na maior cara de pau aos que passam a vida ensaiando palavras de ordem. Sou dionisíaca por natureza. Gosto da desordem de corpo e alma em construção coletiva.
Quero deixar minhas asas livres na correnteza......ainda que em barquinhos de papel....