quem conta um conto aumenta um ponto
e mais não digo ....



De pernas abertas para o sol estarei sempre




Ensaio

Boneca desconjuntada, de pés tortos, apontados para a bússola dos sonhos. Tudo certo. Boneca que não almeja chegar até a terra do nunca não é boneca. E no caminho, as vezes as pilhas falham e é preciso reconectar-se ao essencial, ainda que através do exercício de movimentos imprecisos. Há uma estranheza na minha feúra, diria narcisa, mas ela faz parte da busca da minha mais pura beleza. Da flor de lótus, que bebe do suor da luta. É engraçado quando a gente se estranha. Sobra sempre um entendimento, quero crer. Nunca estive preocupada em ser a garota certa e não acho que este seja meu erro. Torta ou reta, sou aquela, que não consegue aprisionar uma palavra de amor.....e pronto. Uma vez decidi rasgar o manual e funcionar sempre na tentativa, agora..quando quebro...aguento.

PORTAS PARA DENTRO




Pode ser um ato de coragem e fé ajoelhar-se diante de si próprio e rezar pela beleza que reside em cada passo dado adiante. Nenhuma porta fechada pode fazer alguém de coração aberto, refém. A pele de quem traz o amor como herança é benta fora das igrejas e protegida por todos os santos.

cadeira de areia





Encontrei-me ilhada, entre paisagens maravilhosas de uma senhora Bela. Precisava salgar meu coração. E ficar assim parada, só me vendo....Manoel de Barros, um de meus mestres mais queridos já falou, que devíamos ser como as folhas das árvores no outono...cair sem fazer alarde...mas eu, exagerada, saí pelada no vento só para conferir se ferida arde no frio. Não doeu. É feito quando a gente cai da bicicleta, quando criança em tempo de aprender. Irrita, mas logo só o que se quer é tentar de novo e sair toda prosa de cabeça erguida, mostrando que não foi nada....
Eita preguiça boa....adoro, só a mente atrapalhada, querendo entender ou justificar o que não tem explicação, porque é apenas escolha. Eu não sou flor de geladeira e isto é fato, quer me doa ou não. A espécie carolcaracoladacactusmargarideus precisa de beijos do sol e banhos de água freca para estar tudo certo.
A Ilha Bela é de uma beleza pleonástica....Estar em meio as águas é como virar sereia, de repente e alcançar toda a lógica das histórias fantásticas, sem carecer entendimento....



Hoje ouvi esta música, numa exagerada festa e sorri ao pensar nos excessos dos amantes...na breguice deles,ou nossa, na verdade, e achei este vídeo, meio brega também,mas irresistível....daí lembrei de quando eu comecei a gostar de Roberto Freire e de quando eu Li Ame e Dê Vexame......fiquei investigando mio core e suas referênicas, seguindo pistas, enquanto chupava um picolé de brigadeiro e rabiscava nomes dentro de um coração de areia na praia da feiticeira......

Alada






Posso assumir, se quiser, a forma de um cavalo alado, amarelo com laranaja se ficou um pouco de mim armazenado no nosso reggae em pleno carnaval, fora de época. E para suprir essa falta posso simplesmente me reinventar. Depois acontece de eu não saber acomodar as asas inquietas no vestido. Ou ainda podem me querer, de repente, no papel de uma banguela de gravata, em produção de surrealismo barato. E daí? Minha alma é indiferente à convites alheios..."Antes de te encontrar te amei.."Fernando Pessoa. Minhas vibrações são narcísicas e só atraem similaridades...demorou, mas aprendi a sintonizar o rádio, graças ao SwáSthya Yôga, inclusive.
E se tudo parecer reverso...tudo bem
De costas, o mundo me revela, ainda, mais todas as suas intimidades. Nós pés e nas mãos temos todas as escolhas do ir e vir.Isso quando o coração não embaça de querer ficar. Entrar e sair de filmes mudos, hora como protagonistas e segundos depois como figurantes é o jogo do grande teatro do absurdo. A Vida. Eu não cheiro ao teu café, passado nos dias anteriores. Nada sucedi. Apenas aconteço agora na história. E, a propósito, cheiro mato. Virgem de nós. Misturado com baunilha. Meu perfume é o Femme. Pode ser demasiado forte, para ofatos viciados.
Em meio aos enredos de sempre, vale dizer que, talvez, o que se passa no bastidor da nossa vaidade é por vezes o que nos resta de liberdade poética..... a realidade é que tenho me sentido represada e fictícia.
Oh realidade, eu te invento..Clarice Lispector

A Mulher de São Jorge





Dentro da lua tem uma ladeira. Subo lá , sempre. Faço isso para encontrar as coisas do mundo, de uma outra perspectiva. Afinal foi ela, a lua, quem me ensinou logo no primeiro ano de vida o que é amar, sem ter. E como pode haver brisa morna nesta liberdade.
Na primeira idade, mais do que nas outras, a gente só sabe o que pega com a mão. Eu sentia ser filha da lua e queria tocar-lhe o seio, assim como fazia em mainha da terra. Foi aí que pedi confiante ao meu pai –herói: me dá a lua hoje? Dou meu amor, mas ela continuará lá no céu. Como assim? Chorei. Foi bem ali que eu notei o quanto o amor era impalpável. Desde então segui amando o que não cabe na palma da minha mão. Sou feliz assim na amplidão, apesar de saber que um quadrado, pode ser menos ameaçador que uma circunferência. É que você não tem cantos, para se encolher em abraços de ocasião, no fluxo contínuo.
Bem depois, com as coincidências a parte, descobri que São Jorge, o mais sedutor arquétipo do guerreiro, morava nas noites de lua cheia. Nossa! A lua era shiva (criador mitológico do yôga) e shakti (deusa e mulher de shiva). Continha em si a inteireza simbólica das polaridades feminina e masculina, como deveria ser também com os humanos, que saem por aí tropeçando em busca de metades que não hão, porque ninguém cortou o mundo em dois, se bem que o pecado judaico cristão bem que tenha tentado.
Se o meio do mato é minha igreja. A lua é a santa para a qual levo sorrisos frescos, toda vez que agradeço esse amar, que carrego no peito. Ela bóia sobre meus escuros, deixando sempre a mão frestas de luzes singelas a me mostrar o caminho solar, aonde eu gosto de pisar. A lua me aconselha a caminhar apesar de e eu gosto de ouvir isso, quando o frio das faltas congela e sobra uma certa mediocridade em mim.

Na lua as vezes toca Marley...astro rei....

Cirandeira



Todos os mundos giram. O meu. O seu. O nosso. A vida, para todos nós, é eterno cirandar....eu canto para o tempo e procuro nunca deixar de me encantar..mesmo quando as vezes simplesmente não entendo as coisas e sem querer entristeço de saudades de mim, que vou parar lá num sei aonde de espera...Não escrevo, porém, para reunir minhas partes desconexas, soltas, como já cheguei a pensar, escrevo só pelo prazer. Porque é natural para mim dizer, mesmo que eventualmente me arrependa, num certo desconforto de saber que o outro não precisava saber de tanto assim ...

A rosa que caiu da goiabeira





Os afetos são nossas doses fatais de imortalidade, principalmente se for outono, quando toda a gente querendo ou não, se desfolha um pouco na brisa...

TRISTEZA DE PRINCESA DE PAPEL






Pode acontecer de uma princesa sentir-se a mais sozinha alma de seu próprio reino. É assim feito estar sentada numa pedra defronte para um mar imaginário, de mãos e pés atados, num coração assustado. Estar só no teu cais e notar como são estranhas as planícies formadas por mares de gente. Esta princesa nunca soube como nadar ali é bem verdade.
Tentou aprender a remar num mar de papel, mas muitas vezes ficou à deriva das letras , que rumam ao infinito. Não chorou, sempre. Tentou ser silenciosa como a pedra e apenas observar o rumo dos ventos.....em paz.

virada cultural paulista






legenda:eu agora de pouco, voltando para casa

Meu corpo tremeu de contentamento hoje no Teatro Municipal de São Paulo. Tudo ali era beleza. A música pegou meus olhos arregalados pela mão e ninou meu coração longe dos sustos e dos soluços, deste tempo que me veio de ponta cabeça. Como é lindo ver a liberdade materializada como eu vi na destreza dos dedos brincalhões de Gismonti ao piano, na leveza de Tom Zé, na presença sagrada de Chico César. Eu vi tudo acontecer, ao mesmo tempo em que aconteci ali com eles. Como disse o paraibano Chico em sua música-prosa,com o coração cheio de fé e descrença.
As vezes meus pulsos pequeninos não aguentam minha força e doem. Eu insisto em acreditar na benevolência da vida. Não caibo em minhas eventuais tristezas. Saio roçando a lua e as estrelas até sentir na pele o prazer de existir. Que planície estranha esta, composta por um mar de gente. Ali naquela sala de espetáculos todos fizeram amor com as mesmas canções. Livres, leves e soltos de si próprios. “ Deus me salva de mim. Da maldade da gente boa e da bondade de gente má” Chico César. Nós todos, que estávamos ali, éramos a carne e o osso do mesmo prazer de compartilhar o som. Abdicávamos de nós mesmos para viver aquela vida que cabe na letra de uma canção, tão intensamente como se não houvesse mais nada a dizer.
Neste sábado Sampa estava virada. Mil e uma noites em um canto que é um tanto de mundo. A terra frenética de ninguém e de todo mundo. São Paulo..."mar de gente aonde eu me encontro" . “ A vida ao avesso não tem fundo nem fim “ já disse Viviane Mosé. Já é dia claro e eu ...com “vontade de viver mais..em paz com a vida e comigo..”