quem conta um conto aumenta um ponto
e mais não digo ....



A Mulher de São Jorge





Dentro da lua tem uma ladeira. Subo lá , sempre. Faço isso para encontrar as coisas do mundo, de uma outra perspectiva. Afinal foi ela, a lua, quem me ensinou logo no primeiro ano de vida o que é amar, sem ter. E como pode haver brisa morna nesta liberdade.
Na primeira idade, mais do que nas outras, a gente só sabe o que pega com a mão. Eu sentia ser filha da lua e queria tocar-lhe o seio, assim como fazia em mainha da terra. Foi aí que pedi confiante ao meu pai –herói: me dá a lua hoje? Dou meu amor, mas ela continuará lá no céu. Como assim? Chorei. Foi bem ali que eu notei o quanto o amor era impalpável. Desde então segui amando o que não cabe na palma da minha mão. Sou feliz assim na amplidão, apesar de saber que um quadrado, pode ser menos ameaçador que uma circunferência. É que você não tem cantos, para se encolher em abraços de ocasião, no fluxo contínuo.
Bem depois, com as coincidências a parte, descobri que São Jorge, o mais sedutor arquétipo do guerreiro, morava nas noites de lua cheia. Nossa! A lua era shiva (criador mitológico do yôga) e shakti (deusa e mulher de shiva). Continha em si a inteireza simbólica das polaridades feminina e masculina, como deveria ser também com os humanos, que saem por aí tropeçando em busca de metades que não hão, porque ninguém cortou o mundo em dois, se bem que o pecado judaico cristão bem que tenha tentado.
Se o meio do mato é minha igreja. A lua é a santa para a qual levo sorrisos frescos, toda vez que agradeço esse amar, que carrego no peito. Ela bóia sobre meus escuros, deixando sempre a mão frestas de luzes singelas a me mostrar o caminho solar, aonde eu gosto de pisar. A lua me aconselha a caminhar apesar de e eu gosto de ouvir isso, quando o frio das faltas congela e sobra uma certa mediocridade em mim.

Na lua as vezes toca Marley...astro rei....