quem conta um conto aumenta um ponto
e mais não digo ....



Anseio de seio



Ocorre que não me é raro querer dizer o que não cabe na palavra. Forma-se um nó nas tripas, ligeiramente afrouxado, quando as letras se ajeitam no formato de pistas do meu paradeiro. Minha pele não é invólocro, mas passaporte e nesta sentença, nasci sem caber em mim. Misturo-me ao que vivo e posso demorar a entender o que sobrevive a certos naufrágios. De toda forma, uma hora sempre venta. E o vento é movimento de reacomodação. Oportunidade de novos arranjos de minhas partes soltas, na soma dos dias idos. De onde eu vim, já tinha mulher demais para dar continuidade às tradições de cama, mesa e banho. Eu quis mamar nos seios de Joana.
Quero ser como a Joana. Lutar na batalha dos homens, mas sem guerra. Depois sair para dançar com eles, em paz. Se me ateassem fogo? Tudo bem. É de lá que eu vim. Sou filha da labareda. Renasceria nas outras que virão, com a mesma chama. A gente se basta só até o ponto em que não cabe em si e carece de encontro com um outro, mas quando é que viramos personagens do mesmo refrão de um bolero qualquer? Para que morreu Joana, a brava? Para que mulheres de depois se entupissem de pílulas para emagrecer?
Sempre haverá quem sabe e quem para sempre desconhecerá o que é ser pororoca guerreira. Ter um mar bravio na mente e um rio no ventre. E todos aqueles que mergulham em suas próprias salivas, vez por outra precisam chorar, sem abandonar a luta. Se choro é para lavar toda a dor deste mundo, assim na mesma lida das baianas do Bonfim. Já quando verto água benta de vontade é para abençoar a dança de amor, aonde todo mundo é querubim. Tudo isto para dizer, que sexo verbal não faz meu estilo. Se quiser me achar, faz silêncio e segue a música que brota debaixo do teu peito.

"Sexo verbal
Não faz meu estilo
Palavras são erros e os erros são seus
Não quero lembrar
Que eu erro também
Um dia pretendo
tentar descobrir
Por que é mais forte
Quem sabe mentir
Não quero lembrar
que eu minto também
Eu sei
Feche a porta
Do seu quarto
Porque se toca o telefone
Pode ser alguém
Com quem você quer falar
Por horas e horas e horas
A noite acabou
talvez tenhamos que fugir
sem vc
mas não não vá agora
quero horas e promessas
lembraças e histórias
somos passáro novo
longe do ninho
eu sei"...Renato Russo/Legião Urbana