quem conta um conto aumenta um ponto
e mais não digo ....



Missiva De/Para uma Sagitariana



Você já está crescidinha para saber que há uma inutilidade tacanha comum em nossa auto-importância e outra indêntica, em nossa humildade de aluguel. Se você olhar fundo nos olhos de um lagarto, se enchergará de alguma maneira ali. E se mirar o presidente dos Estados Unidos (bem antes da crise) a um palmo de distância, continuará ali. Somos fruto da mesma busca de sentido ou, quem sabe no fim das contas de sentir. Enquanto o mundo, aos solavancos, imerso em crises variadas, caminha para uma catarse ou quem sabe para a maior das catástrofes anunciadas, eu entendi que não tenho precisão de nada. Eu quero.É diferente. Não se trata de

pirraça mimenta, de menina pimenta. Não! Trata-se de um gosto pela
vida. Viver me apetece por demais. Como disse Fernando Pessoa "As
pedras eu guardo. Um dia farei um castelo".

Faz algumas manhãs, em meio ao caos que anda minha vida olho no espelho e repito : hoje começa a parte do filme, em que eu consigo tudo aquilo que eu quero. Ainda não sei o
caminho para alguns sonhos. Há uma cegueria assutadora nos dias do futuro. E um cansaço antecipado, repleto dos medos que teimam em invadir a bagagem de mão.
Tateio vias , por vezes imaginárias, mas inerte não fico. Não posso. De noite eu sinto o vento soprar-me adiante, seja como for, ainda que um sopro gelado seja capaz de me trazer ao ponto de partida. Eu recomeço, simplesmente pelo prazer do movimento. Tenho asas, na minha fantasia. Mais de pássaro, que de anjo.
Hoje , quando páro para observar a paisagem, não há tantas incertezas quanto ao que,definitivamente, não me compõe. Houve um

tempo em que me sabia frágil, quando na verdade sempre fui apenas

intensa. Sou elemento fogo. Acolho o poder da minha vontade no ventre. Lá estão todos os filhos meus, que ainda não pari. Irmãos do meu príncipe Cauã, meus livros, espetáculos, aulas de swásthya yôga, meus afetos, minhas partes ou minha inteireza, pois não dissocio o amor que tenho pela minha orelha esquerda, do que sinto por outros vãos. A pele , do pêlo. Talvez por isso ache natrural querer que você veja no dedão do pé, a mesma beleza da minha bunda. Sou eu ali também. Minha unha também se regala nos meus prazeres. E sofre quando eu choro os mortes que não quero aceitar. Sou mamífera e preciso de vínculos para me desenvolver. Num ataque de autohipnose, posso até pedir que você oferte seus seios para prover minhas feiúras como fosse uma demanda legítima. Depois passa. No fundo eu sei que não te preciso. Posso te querer, mas isso já é outra estória. Eu gosto de você, o que também já é outra coisa.
Continuando a prosa, Ainda estes tempos, um amigo
me disse que quando te jogam no chão, te chutam, te enganam, tiram

sarro dos seus sentires ou seja lá de que forma te ferem, a troco de

nada ou de alguma moeda de troca, não importa, o que vale é que esta é,
paradoxalmente, sua divina oportunidade de medir o poder do seu pulso firme em optar pelo

sorriso. E meus pulsos são pequenos como os de um bebê, só para denotar a feminilidade que me denuncia até nos ossos. É que se mil vezes eu nascer quero ser fêmea, já disse, mas um soco meu pode doer mais do que o do Popó. Parece assunto de Poliana, só que constatar a amplitude da sua decisão de ser um ser feliz independentede qualquer infeliz é um presente e tanto. ´A gente sente-se mais auto-confiante.
"Os meus inimigos eu enfrento sem medo. Eu aproveito para lutar enquanto é tempo"..

Posso ser mais menina, que a ingenuidade de uma garotinha de cinco anos. Mais velha que
uma anciã. Posso ter a adolescência a pulsar na ponta dos dedos, ser fruta madura e também caroço de azeitona. Não sou muitas. Sou pessoa. E pessoa é o que decide. Então, as vezes, a gente pode sentir que é nuvem ou pena e até pedra. Tenho prazer e alegria em passar por cada um destes cantos de mim, vez em quando.
Foi e é difícil ter compaixão comigo. Cheguei a me odiar muitas vezes. Raiva passageira. Nunca atei-me em emoção alguma. Tenho um amor real pela liberdade. E não existe liberdade sem mudança. A gente tem que mudar a todo instante de atitude, para captar algumas nuances da vastidão embutida no termo viver. Mais fácil e elegante, que expulsar um penetra de uma festa é negar-lhe a atenção e dançar só com seus convidados. As emoções podem condimentar ou azedar a sua vida e eu , confesso, que já estraguei meu angu algumas vezes por pura falta de atenção ou teimosia ou isto ou aquilo. O melhor é foi quando consegui jogar a papa podre fora, rindo. Sem, nem por um minuto achar, que eu era a meleca. Como tenho rido muito, penso que, em suma, nunca estive tão feliz por estar realmente aprendendo a lidar comigo. Ainda não me perdoo por algumas coisas, mas sei que sou bela e devo celebrar isso, sem falsa modéstia e com muito amor no coração. Sou aventureira nata. E me amar cada vez mais, tem sido adrenaloina pura, porque há curvas perigosas e acidentes de percurso, mas aprendi que eu tenho esse direito. E devo exercê-lo com dignidade. Parabéns Carol Montone pelos inestimáveis avanços. Persevere!!!
E você como está? Espero que muito bem também, apesar de qualquer "De"..pois como disse certa vez a Clarice "é o próprio apesar de que te empurra para frente", se você quiser..claro!