quem conta um conto aumenta um ponto
e mais não digo ....



É PECADO ELITIZAR O CINEMA COM INGRESSOS TÃO CAROS



Atire a primeira pedra quem nunca pecou, ainda que seja ateu. Cada um acaba sempre elegendo seus motivos para se arrepender. Pecado: transgressão de ensinamento religioso, falta ou culpa, segundo dicionário Aurélio. Um significado tão estreito, para palavra de abrangência fantasmagórica, não convence mais ninguém em tempo de caos. Uma forma inteligente e corajosa de pensar sobre crimes e castigos é revelada em “Pecados Íntimos”, filme que vai além do blá, blá, blá dos preceitos morais e/ou éticos.

Confesso que esperava encontrar algo libidinoso, quando entediada dos meus pensamentos fatalistas, resolvi dar uma passada no cinema. A sinopse indicava afinal duas pessoas entediadas com suas vidas e /ou casamentos num subúrbio norte-americano, dando início a um relacionamento cada vez mais inconseqüente. Para minha grata surpresa levei um chute no estômago, ao ver temas como neuroses, traumas, doenças mentais e preconceito, expostos não de maneira genial, mas pelo menos convincente. Kate Winslet finalmente teve a chance de mostrar seu potencial artístico depois de sobreviver ao Titanic. O despudor do olhar da atriz encantou mais que as cenas de nudez, que são bem melhores que a do naufrágio também . ...“O mérito de Madame Bovary não foi transgredir ou trair, mas foi o de desejar ter uma alternativa....”, diz ela maravilhosamente , em uma cena cotidiana onde mulheres suburbanas discutem os erros e acertos da imortal personagem do romance de Gustave Flaubert, que escandalizou França em 1857 ao tratar de adultério e do lado pecador da burguesia e do clero.

O que mais me chocou no enredo foi a trajetória do personagem tão doente mental, quanto ingênuo e desprotegido, que sacrifica-se voluntriamente, após ser massacrado pela ignorância, para tentar ser um menino bonzinho em homenagem à mãe falecida. Ao fim da história estas palavras teimaram em invadir minha mente: “A normalidade é uma ilusão imbecil e estéril”...Oscar Wilde

Pecados enfim são como digitais, intransferíveis... Eu por exemplo acho falta de pudor valorizar a tristeza ao invés da alegria. De tempos em tempos a gente precisa literalmente limpar, esvaziar o coração e a mente, oxigenar, expirar as mazelas e inspirar a esperança. Buscar energia na beleza de tudo que é simples como uma flor, o sorriso de uma criança, um olhar apaixonado, um abraço e a felicidade de saber-se vivo o bastante para seguir na caminhada .....

*Seria um pecado não citar aqui “Elza e Fred”, como um dos filmes mais comoventes e apaixonantes, que tive a honra de ver na vida. Singelo, triste, mas sem ser penalizante, co-produzido por Argentina e Espanha, o enredo faz chorar . “Um amor de paixão”, que se passa em Madri e Roma, em meio a uma bela fotografia, é esse o roteiro, que se vale de um espetacular casal de idosos, com formas opostas de ver ou valorizar a vida, apenas vivendo o final dos seus dias....vale a pena alugar , de preferência quando você achar que está ficando velho ou que têm problemas demais.....