quem conta um conto aumenta um ponto
e mais não digo ....



CERTAS MENINAS QUE RIEM DE CHORAR



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São Paulo, capital, hora do Jornal Nacional, da sacada uma janela aberta chama meus olhos. Lá, na tela da grande TV, Fátima e Wiliam falam das aberrações e injustiças do dia, enquanto uma bela garotinha apenas dança. Ela já traja pijamas, mas empolgada como se sentisse o primeiro raio de sol nas ventas, rodopia, saltita e sorri muito, emanando ao universo a energia cheirosa da inocência. Ela está sozinha na sala que vejo, da varanda aonde respiro a metrópole. Naquela menininha me revi. Quantas e quantas vezes houve música suficiente em mim para bailar qualquer tempo ou tempestade, com a mesma leveza das crianças que são super-homens e mulheres-maravilhas invencíveis, simplesmente porque pensam e, portanto, vivem no instante presente, vivem exercitando a presença...
Lembrei do super-homem de Nietzsche e seu conceito de superação através do enfrentamento do presente e das suas contradições. Concordo.

Eu não aprendi o que o tempo é. Nem aonde termina. Dizem que cura tudo. Também não consegui mitificá-lo, a tal ponto. Acho que ele, assim como tudo, é o que acreditamos que seja. Decidi não temer esta ‘entidade” e ponto. Nunca estive submissa a ele, ao contrário procuro fazer amizade. Curti-lo, no que tem de melhor. Não é o tempo que nos faz finitos. É a dor. Só ela nos encerra na mediocridade de uma única emoção. “Infelicidade é questão de prefixo” já disse Guimarães Rosa.

Quando um cansaço de séculos de incomprrensões me encontra, sei que apenas preciso dormir mais, ainda que seja urgente permanecer sempre lúcida e acordada. Assim como a garota “pirueta de pijama” eu ainda não entendi o mecanismo de algumas coisas. O quebra-cabeças delicado de encaixar os meus desejos nos desejos do mundo, a minha vontade, na lógica do contexto, ainda me parece intelinigível, ainda que seja, formalmente, um brinquedinho bastante apropriado para minha idade. Quando esta ansiedade me entristece, eu apenas procuro uma janela, procuro fechar os olhos, para me ver, respiro e depois finalmente enxergo meninhas livres, leves e soltas, que me lembram que sofrer é um valor judaico cristão, que nunca me pertenceu. Nunca quis disputar o reino dos céus com os “privilegiados’ fracos e oprimidos. Sou devota da alegria!
Não por coicidência, na entrada da casa dos meus amados, pai e Izildinha (a sacada em que estava), o visitante se depara com um balaio de maracas, chocalhos e outros instrumentos de percussão, além das bailarinas de Degah e outros elementos coloridos, que nos remetem ao prazer e a alegria de estarmos vivos, ainda que cercados de algumas transitórias e inevitáveis frustrações e dúvidas.