quem conta um conto aumenta um ponto
e mais não digo ....



ULTIMO TANGO EM PARIS


Legenda: No fim , todas as impressões são trêmulas e imprecisas...

Não acredito em coincidências. E todo acaso é uma semente de algum destino. A partir de cada ponto, vírgula, interrogação, exclamação e similares da vida , cada um vai na direção que enxerga e chega ao ponto correspondente. É o bico do seio que chama o conforto da saliva quente da boca aberta? Ou ao contrário é a boca aberta que chama o conforto do bico de seio? Da vida. Digo. E nós somos seio? Boca? Sou do partido do somos tudo ao mesmo tempo agora (STAMTA) .
Rever os clássicos do cinema é sempre uma boa idéia. Ficam mais claros nossos movimentos repetitivos e neuróticos. Nossa graça. Inocência. E tantas outras coisas. Dessa vez escolhi o último Tango em Paris. Perturbador. Irritante. Sexy. Veio ao mundo antes de mim , em 1972, mas tanto faz porque desejo, amor e neurose são atemporais. Ou seja continuamos tendo que matar, física ou imaginariamente, aquilo que nos enlouquece, para salvar um modelo. É tentador entrar num mundo aonde o passaporte é não ter nome, nem passado . E num contexto no qual o futuro só serviria para brochar os amantes. Acontece que somos todos vítimas de quase idênticas referências. E a brincadeira só é divertida ou mesmo quando deprimente, instigante, até o 15º minuto porque depois há uma tendência instintiva de querer o comum.
A parte as chatices melodramáticas de Marlon Brando , as voltas com o suicídio da mulher, e da exacerbação do machismo predador em algumas cenas de submissão deprimentes da ninfeta (outras são bem lindas), é comovente como o filme trata a impotência de um ser quando corre o risco de se relacionar com outro. Na cena em que ele xinga a esposa morta, na cama, quando ele busca respostas que não virão simplesmente porque ela escolheu assim e pronto, a gente também se sente traído e sozinho. As partes mais deliciosas do filme estão calcadas na irreverência. Naquele ponto em que tudo é permitido emocionalmente e fisicamente falando, mas fica uma sensação de que só acontece porque tem data para acabar. Eu me pergunto por que? Quem estipulou que não pode ser sempre assim: uma brincadeira. Livre. De pois seres que se querem, se amam, trepam..tanto faz? Não entendo muito bem dessas diferenças porque nem olho por olhar. Para mim acontece sempre tudo junto. É avassalador. Quando beijo é porque algo que não cabe em palavra , e ainda que inexplicável, aconteceu primeiro. Mas voltando ao filme que as vezes parece só uma guerra de nervos e neuroses diferentes, a exemplo de muitos relacionamentos também. No final é preciso haver uma morte. Não vou contar aqui para não estragar a surpresa de quem não viu ainda e acaso queria ver. Mas é preciso matar para não enlouquecer. Porque não houveram respostas. E quantas vezes nós somos forçados a fazer isso, pelo menos e é bom que assim seja, na imaginação? É a única alternativa que sobra quando certas neuroses se impõe, afinal.
Eu prefiro a parte divertida do filme. Inverossímel. Aquela aonde os sorrisos falam por si mesmos. E você?