Adentrou o banheiro, mais para uma necessidade psicológica do que fisiológica: precisava do espelho.....queria fitar seus olhos e pedir compreensão para com o circo de horrores, aonde cada atriz se esfolava na feira das vaidades da venda diária de peixes. Sentou-se na privada. Abaixou a cabeça entre os joelhos e de súbito viu no chão dois símbolos japoneses, com as provocantes traduções: desejo e perdão. Pensou que se “não existe luz sem sombra”, como pregava a dona do lugar, o desejo era o protagonista da luz e o perdão da sombra.....ou quem sabe essa fosse só mais outra idéia inocente.
Ainda de cabeça para baixo pensou se estava aprisionada voluntariamente naquela merda de banheiro por obra dos seus desejos. Eles libertam ou aprisionam afinal? Nunca soube esta resposta. Para o amigo budista, todo sofrimento mora nas expectativas, mas quem afinal respira só por respirar..sem querer algo do ar? Querer a idéia de nada precisar não seria simultaneamente humilhante e hilário? Desapergar-se nunca foi tão simples afinal. Mas e o perdão? Perdoar parece uma palavra esquizofrênica, de um dicionário muito particular. Cada um conjuga esse verbo a sua própria maneira. Fazem por bondade ou maldade, mas às vezes não perdoar e apenas aceitar pode ser a única saída honesta. Ai que saco. Será que eu aprendi a perdoar? Meu pai, pelo menos, tentou ensinar-me a não culpar e talvez tenha ficado um tiquinho mais fácil, mas não eficiente ainda. O único perdão necessário e real é pessoal, concordo. De você para com as escolhas e fugas do seu umbigo. Perdoe-se....apenas isso. Os outros sentidos da palavra são inverossímeis, maniqueístas e religiosos.
A cabeça para baixo fez as orelhas maiores, irrigadas da vida do sangue. Não esperava encontrar ali, naquele casebre, o desejo e muito menos o perdão. Levantou-se do vaso - como flor murcha que renasce com água benta e enlouquecida de vontade de transgredir-se ajoelhou diante do desejo e lambeu-lhe as vontades. Depois olhou para o desenho do perdão, tirou os sapatos e deu-lhe generosas chineladas, imaginando ali uma barata inofensiva, porém incômoda. Nunca antes saíra de um banheiro tão aliviada. Desejou perdoar-se por todos os muitos limites e fez o que precisava ser feito: a cena chata e casual do jogo da blasé moderninha, que tá nem aí para quem visita seu mundo e sente a vida em fragmentos inúteis, que vivem e morrem no esquecimento de sempre. Não confessou ter-lhe amado e se importado com isso. Era só cinema e no vídeo as reticências são patrimônio público....
“Expectativas são sempre desleais....” indico que você procure esta frase memorável no novo CD de Vanessa da Matta...Sim...(quarta canção)
Aviso aos navegantes: não sou especialmente uma fã de Vanessa da Matta. Creio que as canções que não tocam no rádio são as únicas que prestam dela...feito o verso...”meu príncipe, meu hóspede, meu homem”...do primeiro CD, também me disseram que ela no palco é um fiasco (não sei e não vi, mas confio na fonte) só que gosto de descobrir, olhar de novo e este CD, apesar de cantar num tom só, tem verdade e ritmo bacana, como o da canção do "homem goiaba" também, que fala do brincar de amor, só pela alegria de estar vivo para poder isso fazer, sem vergonha e na maior cara de pau....ademais eu gosto de quem celebra o sim
Acabo de chegar do lançamento de uma coletânea, da editora Komedi, da qual fiz parte com alguns poemetos...depois vou publicá-los com as fotos...foi massa. As vezes publico também algumas coisas na net por esta editora, quem quiser conferir “O Complexo de Cinderela” (www.komedi.com.br) Bacana demais vivenciar escritores, que cuidam da palavra, com amor e devoção e notar que o tempo não passa para quem sonha.....”sonhos não envelhecem”...os poetas, cronistas e contistas da terceira idade estavam lá representando a sabedoria da classe com maestria....obrigada à todos os editores pelo convite desta oportunidade.
* queridos perdoem o tamanho do texto, mas francamente me perdôo e não estou com vontade de editar nada ...tudo se encaixa....
Ainda de cabeça para baixo pensou se estava aprisionada voluntariamente naquela merda de banheiro por obra dos seus desejos. Eles libertam ou aprisionam afinal? Nunca soube esta resposta. Para o amigo budista, todo sofrimento mora nas expectativas, mas quem afinal respira só por respirar..sem querer algo do ar? Querer a idéia de nada precisar não seria simultaneamente humilhante e hilário? Desapergar-se nunca foi tão simples afinal. Mas e o perdão? Perdoar parece uma palavra esquizofrênica, de um dicionário muito particular. Cada um conjuga esse verbo a sua própria maneira. Fazem por bondade ou maldade, mas às vezes não perdoar e apenas aceitar pode ser a única saída honesta. Ai que saco. Será que eu aprendi a perdoar? Meu pai, pelo menos, tentou ensinar-me a não culpar e talvez tenha ficado um tiquinho mais fácil, mas não eficiente ainda. O único perdão necessário e real é pessoal, concordo. De você para com as escolhas e fugas do seu umbigo. Perdoe-se....apenas isso. Os outros sentidos da palavra são inverossímeis, maniqueístas e religiosos.
A cabeça para baixo fez as orelhas maiores, irrigadas da vida do sangue. Não esperava encontrar ali, naquele casebre, o desejo e muito menos o perdão. Levantou-se do vaso - como flor murcha que renasce com água benta e enlouquecida de vontade de transgredir-se ajoelhou diante do desejo e lambeu-lhe as vontades. Depois olhou para o desenho do perdão, tirou os sapatos e deu-lhe generosas chineladas, imaginando ali uma barata inofensiva, porém incômoda. Nunca antes saíra de um banheiro tão aliviada. Desejou perdoar-se por todos os muitos limites e fez o que precisava ser feito: a cena chata e casual do jogo da blasé moderninha, que tá nem aí para quem visita seu mundo e sente a vida em fragmentos inúteis, que vivem e morrem no esquecimento de sempre. Não confessou ter-lhe amado e se importado com isso. Era só cinema e no vídeo as reticências são patrimônio público....
“Expectativas são sempre desleais....” indico que você procure esta frase memorável no novo CD de Vanessa da Matta...Sim...(quarta canção)
Aviso aos navegantes: não sou especialmente uma fã de Vanessa da Matta. Creio que as canções que não tocam no rádio são as únicas que prestam dela...feito o verso...”meu príncipe, meu hóspede, meu homem”...do primeiro CD, também me disseram que ela no palco é um fiasco (não sei e não vi, mas confio na fonte) só que gosto de descobrir, olhar de novo e este CD, apesar de cantar num tom só, tem verdade e ritmo bacana, como o da canção do "homem goiaba" também, que fala do brincar de amor, só pela alegria de estar vivo para poder isso fazer, sem vergonha e na maior cara de pau....ademais eu gosto de quem celebra o sim
Acabo de chegar do lançamento de uma coletânea, da editora Komedi, da qual fiz parte com alguns poemetos...depois vou publicá-los com as fotos...foi massa. As vezes publico também algumas coisas na net por esta editora, quem quiser conferir “O Complexo de Cinderela” (www.komedi.com.br) Bacana demais vivenciar escritores, que cuidam da palavra, com amor e devoção e notar que o tempo não passa para quem sonha.....”sonhos não envelhecem”...os poetas, cronistas e contistas da terceira idade estavam lá representando a sabedoria da classe com maestria....obrigada à todos os editores pelo convite desta oportunidade.
* queridos perdoem o tamanho do texto, mas francamente me perdôo e não estou com vontade de editar nada ...tudo se encaixa....
* foto como sempre do maravilhoso Olhares.......(pelos olhos de Maria Flores)
Beijos em todos
Carol
Beijos em todos
Carol
