quem conta um conto aumenta um ponto
e mais não digo ....



PARA SEMPRE JULIETA








De amor pela vida morri sucessivamente. Em cada palavra que não trouxe ao mundo. E na solidão desta impossibilidade quis pelo menos uma manhã sem o futuro da morte anunciada. Um intervalo que acomodasse discretamente as minhas ausências. Um texto sem a obrigatoriedade da existência de verbos, ainda que diante do infinito cotidiano amar reste como a única paisagem instigante o bastante. Aquela que resgata a complexidade sugada pelo vivido.

Amar um outro ser talvez resulte apenas na transferência do medo. No escambo da humana impermanência pela eternidade de um desejo. Nesse ponto tudo é fuga. Procura da eternidade brutal do que enfim fez sentido. O amor. Diante da própria morte, entretanto, seria convenientemente convincente argumentar a necessidade de mais tempo para aprender a amar os outros?


Viver talvez consista uma experiência volátil, que se concretiza só pelo tato. Na fricção das ilusões perdidas, com os sonhos restantes. De repente o amante gostaria de nunca ter começado. Há uma tristeza impune nesse amor incontido. A certeza do fim, num amanhã que nunca quisemos, pois todo caso de amor vive da utopia de sempre resistir.