quem conta um conto aumenta um ponto
e mais não digo ....



Umbigo de afrodite





Foto Filipe Pereira (http://www.olhares.com.br/)




É sempre a outra e não eu. Aquela loucura em meio às muitas hospedeiras de mim. Ela ri do que choro. Soluça meus segundos, com a irreverência de quem nada tem à perder. Já as muitas ficam trombando-se nos corredores das minhas reminicências poéticas. Alvoroço de fêmeas. Paradoxo. Pasmaceira. Eu? É. E às vezes pareço também uma boneca pálida jogada na cama à mercê de emoções, que se dizem minhas.

Sempre permiti que sentimentos intensos acontecessem em mim, por achar que isto é estar inevitavelmente viva, com o ônus e o bônus. Tanta beleza, inocência, alguma maldade e outras muitas eternidades vividas se passaram a partir desta decisão..... Hoje cogito a possibilidade de revê-la e talvez até subvertê-la a uma nova ordem. Puseram-me à pensar no que sobra de genuinamente nosso em meio às emoções e pensamentos, que inundam nosso tempo subconsciente. Não somos o coração, tampouco a mente e muito menos o corpo. Talvez tudo seja bem mais simples. Bastaria se desapegar do sentir e sossegar a mente. Meditar e intuir uma luz de plenitude , que ofuscaria tanto as mazelas quanto as bonanças.....no entendimento de que tudo é transitório.

Por hora, passo o tempo da dúvida fazendo das palavras minhas ilhas, refúgios dos meus naufrágios, montanhas das minhas escaladas, cheiros do céu, mas agora até nelas me perco em demasia, num certo cansaço de buscar conecções mais seguras. Parece que chega um tempo em que a gente precisa mesmo esvaziar-se, escorrer o coração, santificar o corpo e ficar quietinha a espreita da alma.

Caso mil vezes eu nascesse, me queria mulher, mesmo avisada de que esta raça é mais subalterna às certas emoções perigosas, salvo os exemplares transgênicos. Não se trata de preconceito. Homens quando amam, simplesmente amam mais, como diz minha irmã. É só porque as meninas se jogam no tempo. E eu não saberia existir sem este frio na barriga. Às vezes tenho a sensação de que uma mulher está sempre mais sujeita à uma queda do que um homem. Deve ser por causa das sandálias de salto, que afastam os pés do chão, aproximando a cabeça das nuvens. Essa propensão ao tombo também pode vir da crença de que sempre haverá um pobre “salvador” de nossa pátria, para oferecer seu colo e sujar os pés na poça por nós. Me aceitaria mulher, ainda sob a ameaça latejante de ser mais alguma das eternas cinderelas patéticas , frente a homens cansados de “pagar o pato” e que só querem brincar junto, com razão.

Contudo......eu não vou sentir vergonha dos meus vexames, de errar frases, me perder nas crases e nem mesmo de não ter explicação lógica para meu amor sem vírgulas. Como vou te explicar que enquanto tua boca jorra palavras banais, blasés e indisponíveis em mim faço amor com o branco dos seus dentes, numa paz infinda e surrealista? Não preciso, entretanto, de redenção. Eu sou menina e gosto.


beijos na sua bochecha


Carol e etc