quem conta um conto aumenta um ponto
e mais não digo ....



Língua solta






O vício de dizer é ópio, como todo outro. Outro dia vi Caetano comentar, que com mais de 60 anos não aprendeu a calar, nem quando quer. Padeço dessa característica menina também. Há um vento em mim, que tira tudo do lugar, ainda que deseje me acomodar em conjugações verbais mais pacatas, como ouvir. Não é barulho. É um desassossego de me certificar que você entendeu o que eu não consegui contar direito sabe? Ao mesmo tempo ocorre de todas as palavras serem vulgares, para desenhar a melodia de um querer, que seja tão singelo quanto avassalador. Aquele que simplesmente chega e te alcança, em meio a mais audaciosa fuga. Aquele tipo de furacão, cujo encontro casual não traz o tempo para vestir a alma. Nunca estive na palma daquelas mãos, já ele esparramou-se entre as linhas do meu destino, descuidadamente. Teus dedos ficaram cheios de silêncio. E se me convidas à dançar sem música no coração, eu simplesmente recuso. Depois choro, porque meu peito explode na batucada intermitente de amar. Não quero pisar nos seus pés inertes. Nesse descompasso, é raro escrever nada que preste. Estou sem paciência comigo. Hoje minha mainha me disse: "minha filha talvez você fale demais...." Pode ser, ou não como diria Caetano. talvez você é que fale de menos. "Deixa eu cantar, pro meu corpo ficar odara..pra ficar tudo jóia rara, qualquer coisa que se sonhara..."